Livro das horas
quem sabe o bom amor desbotou preso na fotografia
como um prego morrendo de sede deseja a parede
e uma paz flutuada divida os dois
quem sabe vestida por dentro
planeje a noite aguda
rezada com uma nova saudade
que não dorme enquanto não chego
inebriada de certezas partidas
quem sabe eu seja a venda numa orquestra
alguma espécie de prece ardendo no chão escorregadio
quase em fuga ferida de lume
bata as asas madrugando no teu pensamento
e minha alma de passagem
como vento ofegando através da cortina
morra sem saber que morre
no evangelho dos seus cabelos
como lenços de linho acabados de lavar
leva abismo no ar
farta de soar essa tranquilidade de ser.