Eu não pertenço
Eu não pertenço àquele cometa que eu nunca vi
Eu não pertenço à cidade de Osaka
Eu não pertenço à neve se sou presa de sol tropical
Eu não pertenço às distantes galáxias
Eu não pertenço aos seus bilhões de anos luz,
Eu pertenço e sinto apenas a mim mesmo
Eu pertenço à minha miúda perspectiva, de melancolia
Eu não pertenço às emoções de 99,99% das pessoas
Devo ser tão alheio à elas quanto uma geladeira ou uma cadeira
Devo ser inanimado
É assim que vemos a maioria das pessoas e seres vivos
Mesmo quando tentamos deixar um pouco nosso ponto fixo
E ao vermos com insensibilidade, desprezamos, matamos quem ainda está vivo
São como sombras de formas distantes, de prédios enormes que fazem uma torre no chão
Somos torres no chão e queimamos de egoísmo
Eu não pertenço à grande maioria das coisas, e às coisas que me envolvo,
Eu pertenço muito menos do que gostaria
Ao tentarmos respeitar os espaços dos outros
Insensibilizamos por osmose
O respeito deveria ser o contato
Solidários, desde os gestos mais pequenos,
Mas não nos pertencemos como deveríamos
Solitários, paralisados, tememos
Poucos são aqueles aos quais pertencemos,
Não chega perto do quão dominados estamos por nós mesmos
Ainda assim é um alento, um desejo