Após as complicações

Chegar até aqui me tirou o fôlego e as palavras.

Minha permanência esvanece como um típico fenômeno natural. Voltarei com o que as próximas estações trarão para mim, apenas para tirar no final, e me devolver na repetição de um inacabável ciclo de perfeitas desavenças e soluções.

Nos pedaços quebrados do espelho, ainda há um pouco do meu reflexo, ainda há uma voz que conversa consigo mesma à procura de respostas para suas próprias duvidosas questões, mas desta vez, ela não responde a si, e as perguntas são jogadas despropositadas ao oblívio e acobertadas pelo presente em movimento, como se fossem fragmentos de um imperdoável crime sem vítimas ou culpados.

Nas chances que restaram, vou até a camada mais profunda que posso alcançar de determinação, segurarei firme no que poderei ter em minhas mãos, não deixarei ir embora mesmo que sangre, corte e cicatrize como as vezes passadas em que tive a ilusão de certeza de que eu poderia aguentar todo dano sozinho.

Escritas em giz nessas paredes abandonadas estão partes atemporais de mim, elas não foram apagadas desde que as deixei aqui, por bem e por mal, elas são tudo além de mim, além do agora, além de si mesmas.

Ainda tenho muito para perder e ser tirado à força, enquanto conservo tudo o que está em minha possessão, em espreita vou acumulando mais do que penso que mereço, e farei disso a recompensa pelo esforço mútuo, cego por traços de esperança ou pistas para uma finalidade aos meios sacrificantes como as mais definitivas provações.

O sopro do vento vira as páginas rapidamente, involuntariamente enquanto se passam capítulos desta história sem fim em infinitos parágrafos indecifráveis. E quando vi, eu ainda estava adentrando na trama, apresentando-me no prólogo e descrevendo meus primeiros pensamentos a outros personagens e figurantes ao meu redor.

O que foi feito está agora em um lugar onde as mudanças jamais poderão alcançar, a mente está tomando seu tempo para deixar tudo isso para trás, não é nenhuma missão fácil afinal.

A estranheza ocupa o espaço da ambiguidade, preenche com o desejo de saber o que agora se esconde em sombras temporárias, pois estas serão iluminadas pelo brilho de dias em que não haverá traço algum de arrependimento por viver o presente, e serão os dias mais preciosos que virão após as aflições e as tempestades.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 01/04/2019
Código do texto: T6613075
Classificação de conteúdo: seguro