bakunin
nunca tive medo do medo
quando nasci berrei
pus a boca no mundo
fiquei sozinho no breu
fui ridículo imundo
espantei sombras e assombrações
espíritos malignos
vesti o terno e a eternidade
e quando levei um tapa não dei a outra face
corri riscos necessários
e às vezes por preguiça
andei na raia e me fiz otário
mas escalei muros e roubei frutos no pomar
vivi dias precários
faltou-me o pão que deus e o diabo amassaram
bati cartão de ponto por salário irrisório
enfrentei chefes e patrões reacionários
e não fechei as portas do coração
deixei o amor entrar
junto entraram uns ovni’s
permiti-me cooptar por revolucionários
e lealmente encarei a repressão
era um feliz visionário
depois disseram que eu era porra-louca
só por querer sequestrar meu chefe
e exigir da patronal meus oito anos de mais valia
após cinco horas de reunião de critica e auto-critica
regada a vinho e muita fumaça fui expulso do partido
zanzando pela cidade sem o que fazer
cismei de escrever coisas talvez para não morrer
uns diziam que eram poesias
& outros que eram panfletos
que eram belas porcarias
para encerrar uma polêmica desnecessária
enviei alguns textos a um eminente critico literário
cuja resposta veio em sua coluna em um jornal diário
dizendo que eu era prolixo
pró-lixo e que devia desistir
isso me deu ânimo para
pró-seguir.
* Esse texto está no livro Todos os Dias são Úteis - Edição do autor 2009