a cada ato novo de covardia
cavo minha cova dia após dia
parece que quanto mais fundo
mais profundo se faz melodia
ainda q’nos dias mais cinzas
poesia me escuta, trás paz
é como um chofre de vida
uma letra que exala enxofre
tranque-a, arrume um cofre
mais tanques, mais mortes
compre a vida após morte
compreende? ...
não conte com a sorte ...
cloro p'ra limpar minh’alma
claro que ninguém me ama
como? ... você mal se ama
amada insônia, encontre-a
quente como o que queima lá dentro
frieza no olhar não reflete o interno
externo sujeira, já flerte sabendo
um meio d' acobertar a pureza
q' ainda persiste aqui dentro
coração tão puro quanto as drogas que uso
ações, consequências, de seu próprio uso
não uso, abuso, mente suja, limpe-se
olha lá fora: absurdos! mente fuja
esconda-se, vá p'qualquer lugar
q' tenha sol e mar, seja clichê
permita-se amar, seja você
quero escrever o que quero
não mais apagar uma letra sequer
pode deixar, vou pagar aquilo que devo
consertar, conversar, consigo mesmo
sinta o peso um excesso de esterco
letras que fedem sinta esse cheiro
palavras q’ ferem pense primeiro
quer flores? busque no bosque
escrevo só dores ...
e um monte de bosta ...
do tipo: sou um monge de botas
ou tipo: saiba que o mundo da voltas
no fim tudo volta, seja das flores as bostas
as perdas da própria razão
revelam-se novas paixões
vê-la servia de inspiração
noites inspiram solidões
é você e ela
mais ninguém
é só você e ela
grite por alguém
pareço ter tudo
não mereço ter nada
no fundo tenho tudo q’ mereço
andar com a solidão de mão dada.