Fusão

Queria ser devorada

Por uma ave do sertão

Voraz e faminta

Desse lugar do cerrado

Onde tudo é contorcido

E o sentido aguçado.

Primeiro ela comeria

O meu coração

E eu o sentisse engolido

Esse órgão que é perdido

De aflição e de perigo

Alimento para o bicho.

Depois comeria a minha boca

Toda a voz que pensa louca

Sentiria o arrepio

De um prato que é descaminho.

Enfim o resto corpo

Entregue ao seu paladar

Sem nenhum constrangimento

Com prazer e sofrimento

Querendo virar pensamento

De algo valente a voar.