O TEMPO

Rio, 28/10/89.

O tempo passa

Tal qual fumaça

E não se vê

O tempo correr,

E deixa marcas

Quando passa.

Ao arvoredo

Dá ele o crescer.

A água suave,

Sem se perceber,

A pedra alisa.

O tempo passa

E passa a vida

E nunca vai Ter

Um retroceder.

O tempo passa

E o seu passar

Ensina-nos a meditar.

Mas as marcas que deixa,

Não ouve ele a queixa

Daquele que está a marcar.

O tempo passa

Passa para o homem,

Passa para a traça,

Passa para a raça

E passa...

E trona a passar...

Passa para a flor,

Passa para a dor,

Passa para o riso,

Passa para o pouco siso,

Passa para o sábio

E passa para o louco

E torna a passar,

E passa mais um pouco!

Passa para a terra,

Passa para a guerra,

Passa para o monte

E passa para a serra.

O tempo vai,

Contínuo é o seu passar.

Mostra o tempo de semear,

Anda a falar do ceifar

E de um tempo que não passa,

De um lugar que tem uma praça

E um rio caudaloso,

E um Sol Verdadeiro,

E um mar de puro cristal.

Lugar onde o tempo nunca passa,

Onde ladrões não minam,

Onde nunca rói a traça,

Onde está a Eterna Graça;

Que nunca passa,

Nem existem marcas,

Pois não há o passar.