= EU VI =
= EU VI =
Eu vi a fonte
Vi a ponte
Vi as águas correntes
Vertendo para a várzea
Regando vidas
Alimentado as esperanças.
Eu vi a garça branca
Pousando no alagado.
O arroz em cachos dourados
Tombando ao vento.
Ao lado uma pequena casinha de sapé
Onde Maria e José
O seu sexto filho
com alegria anunciavam.
Vi a água da fonte
Encontrando com o rio
De braços dados companheiros
Numa viagem constante
numa carreira itinerante
Deleitando em cachoeira
Bramiam de felicidade.
Desaguaram no mar
Ganharam a imensidão do oceano
Abraçaram o sol em seu poente
Aos beijos receberam-no na nascente
Num cenário encantador.
Como espelho receberam a lua e as estrelas
Refletiram em noite de poesia.
Com magia
Inspirou os enamorados aos beijos
Numa noite linda
Numa noite de deliciosos pecados.
Quebrou na praia as suas ondas
Gritou em altos brados os seus mais secretos segredos
Foram ouvidos pelos enamorados, apaixonados
Que juraram amor eterno.
Eu vi a fonte
Vi a ponte
Vi as águas corrente
Vertendo para a várzea
Regando vidas
Alimentado as esperanças.
Quisera eu ter esta sorte
Como um arroio
Também nasci pequenino
Cresci menino
Espalhei-me pela vida.
Busquei o rio...
Em paralelo
vertemos em lados opostos.
Da solidão, o açoite...
Derramei-me em lágrimas
Reguei as flores
Tornei-me compadre de Maria e de José
Reguei as sementes ressequidas
Novos cachos foram colhido
Esparramei-me em esperanças.
Cresci, contaminei-me, enfureci
Deixei de lado a criança
Chorei a cada lembrança
Quantos segredos guardados em mim!
No caminhar absorvi vários sentimentos
Os mais puros, em meu coração os coloquei
Os menores, perversos, são como espinho
Dói, inflama, abre em feridas
E são expulsos por rejeição da pequena bondade
Que no corpo habita.
Coletei todo o amor que encontrei
Engrossei minhas águas
Tornei-me um lago
Parado, não estagnado
Um pouco mais profundo.
Não tenho a exuberância do mar
Em pequenas marolas brinco com os juncos
Não sou o retrato do abandono
Sou um sonho eterno
Que espera que num suspiro forte
Empurrado pelo vento e pela sorte
Transborde o lago e o rio
Abraçaremos numa carreira louca
Lado a lado aos nossos brados na cachoeira
Gritamos “liberdade” “liberdade”!
Na imensidão azul do amor
Faremo-nos mar
Será ali o aconchego da nossa eterna felicidade.
Tonhotavares