Entre o caos e o cais (“tais a ver”)
Aquela que rabisca em prosa
os traços juvenis do sorriso inexplicável
não é feita de primorosas rosas purpurinas.
Ah, está tão bonita hoje que até no silêncio
refletem espelhos do sonho impalpável…
(Ele)
No campo fértil de uma mente sedenta
Na expectativa de calçar-lhe o sapato de cristal
Esboçou um protótipo que lhe preenchia
Naquele jardim da mente nominal
Destacava-se a beleza, mas não se escondia os espinhos
(Eu)
Nos mesmos espelhos refletem recordações
De tudo que sou entre a utopia e o agora…
(Ele)
Era uma espécie de autorreflexo
Ditado no encontro perfeito entre o real e o abstrato
Tão presente nas noites frias, mesmo sem cama vazia
Silabicamente se via, queria, imaginava
Era o encontro da imagem
Não se via, via-se no outro
(Eu)
Aproximo-me e pegando-te na mão,
mergulho na transparência de teus olhos
Vês o fundo do mar ?
As ruas desertas e a dor no coração?!
(Ele)
Na loucura de mostrar-se
E na esperança de ser visto
Busca um laço, faz um nó
Quer do fundo do poço
Naquele intenso arcabouço
À corda segurar
(Eu)
Vês as luzes que acendiam a razão?
Não são as mesmas que inundavam a cidade.
São daquelas que iluminam o som dos passos,
a respiração apressada e as lágrimas da saudade.
(Ele)
A emoção toma-lhe o corpo
Traçando o mapa da saudade
De um tempo outrora vivido
Mas que se foi na apressada cidade
(Eu)
Ouviste falar na mesma cidade?
Figura que acompanha a doente sensação
de acreditar nos homens de caridade
Com todo o amor que tem no coração…
Segura minha mão, na riqueza sou mendigo…
(Ele)
Há engano na humanidade
Confiastes tanto, por que tanta maldade?
Sinto insegurança é verdade, não maior que a vontade
De parar de perambular
Ser inquilino do GPS
Definir a casa, ir morar
(Eu)
Revejo tudo agora e redigo
Que serei fiel amigo…
Se tem algo em muito sobejo
Em mim será o conforto de um beijo…
(Ele)
Nas fotos que na mente revejo
Num flashback sem razão
Queria um calor de um beijo
Queria um calor das mãos
Queria um colo acanhado
Sou raro, mas faço questão
(Eu)
Hoje solto na irreverência do vento
Que tudo que me afasta da tristeza
É que por amor sinto alento,
E sobre o amor resta-me a certeza
Porque todo ele é poesia…
Porque todo ele é paternidade….
(Ele)
E no jardim de ilusões
Salta ansiosa a estação
Sendo a inspiração do poeta
Sendo a descendência do varão
Porque nele cabem sonhos
De flores feitas de algodão
Não! O vento não leva
Mas traz-lhe na cara a lição
(Eu)
Queres saber a verdade?
Não sou terra de semente inculta e bravia
E tenho nos olhos o reflexo da emoção
Que recordo dia a dia
E fará sempre cama no meu coração…
(Ele)
Das varias posições que tomares
Se vieres de carro ou de avião
Verás que mudo conforme o ângulo
Mas a essência não perco, não!
Tenho um coração compatível
Posso doá-lo quando matar a razão
(Eu)
Aquela que rabisca em prosa
É muito mais que uma simples rosa…
(Ele)
Mas decerto nesse solo
Fértil, mas sóbrio desde então
Embora brote várias espécies
(Margaridas, Azaleias, Gerânios)
Eu planto, sucumbo não
Queria ter mesmo a rosa,
Descrita na imensidão
Não quero status, poder, nem atenção
Mas se a tivesse encontrado antes
Esta espécie em extinção
A guardaria numa redoma
E entenderia o Pequeno Príncipe
(Ela)