"A PÍLULA MOÇA" (obra em 5 Atos)

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UM

“PESSOAS NOCIVAS”

Ela - ... as pessoas são nocivas.

Eu – Nem todas, e a gente não precisa de todas...

Ela – O jeito que saio de casa, é o verdadeiro Eu.

Eu – ... o resto é distorcido, corrompido pelas pessoas?

Ela – Sim.

Eu – “Wish you Were Here” é uma música fantástica!

Ela – “... e foram PESSOAS que a fizeram.”

Eu – Não. Foram deuses.

Ela – Deuses existem... estão entre nós.

Ela – Se não houvesse medicina e nem casas e apartamentos...

Ela – Se morrêssemos mais cedo... bem mais cedo...

Eu – Seríamos mais intensos. Seríamos melhores...

Eu – Pois, “o mal precisa ser regado por mais tempo...” ??

Ela – Exatamente. “Money” é um blues que não se parece um BLUES.

Ela – Porque não existe nenhum blues como “Money”.

Eu – É mesmo.

Ela – É mesmo.

Eu – Dei “bom dia” à um casal de burgueses.

Eu – Eles me olharam, e resolveram não responder.

Ela – “Me poupe, se poupe... nos poupe”.

Eu – Depois, um cara na rua passou feliz e acenando.

Ela – Deve ter sido bonito...

Eu – Sim.

Ela – Nem todas as pessoas são nocivas...

Eu – Nem todas. E a gente não precisa de todas.

DOIS

"A PILULA DE DORMIR QUE SE FEZ MULHER"

Eu - O fato é que sou sempre carinhoso demais...

Ela - Não me parece “problema”.

Eu - É, quando confundem com amor.

Ela – E submissão...?

Eu – No final, sempre aquela frustração.

Ela – Frente à uma “promessa” que você não fez.

Eu – Exato.

Ela - Essa música do Black Sabbath é gostosinha.

Eu – Antes de ter ver, escutei o Mautner.

Ela – “tanto faz gostar de coelho ou de coe-lha...”

Eu – Quando me chamam de poeta na rua...

Eu – ....nunca me sinto merecedor.

Ela – Prefere o quê, então?

Eu – Escritor de terror? Sei lá...

Ela – Quando você lançou algo do gênero?

Eu – 2011.

Ela – Então você é o que É, agora.

Eu - ... um poetinha de merda.

Ela – Não pode ser chamado

Ela - do que "pretende ainda fazer"...

Ela – Além do mais, ser poeta é uma coisa bonita.

Ela – Vamos falar desta sua solidão...

Eu – Eu não. Eu não. Eu não!!

Ela – Você personificou o barato...

Ela - o barato da medicação pra dormir...

Ela - E agora, EIS-ME... AQUI.

Eu – Gosto da sensação, é uma paz imensa.

Eu – Você é uma amiga fantástica.

Ela – Sou... mas eu existo dentro das pílulas...

Eu – Por mim, somos um.

Eu – Não me abandone,

Eu - você é o melhor das minhas noites.

Ela – Não irei, não hoje. Você sabe... que...

Ela – eu sou tão falsa quanto o Sabbath que toca no som.

Ela – Que bom seria, se as pessoas se encontrassem no amor...

Eu – E que essa minha obsessão por escrever...

Eu - Sobre... tudo... e tudo... e todos... e todo o mundo...

Ela – Lhe impeça de enlouquecer... Amém!

Eu – Amém!

Eu – Deus está aqui. Eu posso sentir ele...

Eu - Deus está formigando minha boca

Ela - Como fez ao Judas, só que bem de levinho?

Eu – Me fazendo escrever sem olhar os dedos, Amém!

Ela – Amém!

Eu - Os Black Sabbath são demais...

TRÊS

“O QUE VOCÊ QUER. O QUE VOCÊ É.”

Ela – O que você quer?

Ela - ... quer eu tire a roupa?

Eu - Não te vejo desta forma.

Ela - Pensando em "outras"?

Eu - Outras três...

Eu - de um passado-presente.

Eu - Duas eu fiquei.

Ela - E a terceira?

Eu - A terceira eu nem conheci.

Ela - Pessoas, gatos... cachorros.

Eu - Frangos, cavalos, patos.

Eu - Às vezes é tudo a mesma coisa.

Ela - Mas, às vezes são muito mais.

Eu – Que qualquer coisa.

Eu – Já fui salvo algumas vezes...

Ela - Por pessoas ...?

Eu - Não, por músicas.

Eu - Pink Floyd, Heavy Metal, João Gilberto...

Ela – E literatura? Seus poemas e histórias?

Eu – Isso é vital, brota de algum lugar...

Eu - Do espírito, eu sei lá...

Eu - Não posso dizer que é difícil.

Eu - Só que

Ela - É o que É.

Eu – Um nível de sofrimento que...

Ela –Se têm... ou não.

Eu – É o que É.

QUATRO

PÍLULA MOÇA DISSOLVENDO EM ÁGUA

Eu - uma penúltima noite.

Eu - ... de uma poesia feita à mão.

Eu - ... sobre você, “Pílula Moça”.

Eu - Sobre você... em mim?

Ela - Sobre você... e eu.

Eu - A "Aria na Corda Sol"...

Ela - de BACH? O que têm?

Eu - Ouvirei em som alto...

Eu - quando for chorar por ti.

Ela - Por mim..., ou por você?

Ela – “Amigos e AMIGOS.”

Ela - Amigos veem espíritos.

Ela – E os amigos e espíritos...

Eu – Não sabem pra onde ir.

Eu - Sacrifício.

Ela - É o mais puro...

Eu - dos ofícios!

Eu - como posso sacrificar você?

Eu - Ai de você, amor...

Ela - Por quê?

Eu - Porque apenas UM te vê.

Eu – Ai de mim, que o sacrifício...

Ela – É o ofício mais difícil.

Ela – Pensou demais?

Eu - Coisas que odeio pensar...

Ela - Superação, né não? Né não?!

Eu – Eu não desejo superar o passado.

Eu - Desejo um totem com vários nomes...

Ela - Que te deem um norte...

Eu - Que indiquem tudo o que...

Ela - jamais se repetirá.

Ela - Normal melancolia num poeta.

Ela – Que Deus não te enterre vivo.

Eu - Eu sou só, um cara.

Ela - Um GRANDE cara.

Eu - ... que gosta de boas casas.

Ela - De vestir roupas cheirosas, bem passadas.

Eu - Banho! Muitos banhos!!

Ela – BANHOOSS!!

Eu - Gosto de coisas boas.

Eu - E música, filmes de terror.

Ela - "Fora isso..."?

Eu - "Fora isso", talvez...

Ela - Você SEJA SIM... um poeta.

Eu - É a ilusão...

Ela – Feita pra quem quiser ver...

Eu – E quem quiser ler.

Eu – Mas, ainda assim:

Ela - ... Ilusão.

CINCO

“A PÍLULA DISSOLVIDA”

Eu - Eles veem os poetas

Ela - Como seres livres...

Eu - E até inconsequentes.

Ela - Cheios de vícios e de amores insanos.

Eu - Estou preso só, no meu mundo.

Ela - Como se chama esta música?

Eu - "Pacto com o Diabo"...

Eu - De Giuseppe Tartini

Eu - Seguido de "Réquiem".

Ela – MOZART??

Eu – Isso! Muito bem!

Ela - Você quer que a vida acabe?

Eu - Eu gostaria de fechar os olhos.

Eu - E acordar amanhã cedo...

Eu - Em uma nova vida de amor

Eu - ... e de bondade.

Eu - Em que você fizesse parte.

Ela - Você faria amor comigo?

Eu - O sexo é o princípio

Eu - ...de todos os desastres.

Ela - É verdade.

Ela - Você me ingeriu...

Ela - Afim de fazer uma espécie de Réquiem?

Ela - Pra você mesmo?

Eu - Não. Já fiz isso antes.

Eu - Não ficou bom...

Eu - Como já disse:

Ela - Sem "dramas", sem "vícios"

Eu - Em excesso, somente as palavras.

Eu - Ideia obscura, noite fria...

Ela - Espírito calmo.

Eu - Vontade de fazer:

Ela - Melhor e Melhor e Melhor.

Eu - "Pílula de dormir", eis me aqui.

Ela - O sono chegou? Sonhará comigo?

Eu - Provavelmente não... provável que não...

Eu - Provav... mente.. que...

Ela - Não.

(FIM)