Apócrifo

Ele sabia bem o que ia acontecer. Já tinha tudo acertado: onze e meia, ele com a cruz aos ombros; antes de chegarem ao calvário, viriam os rebeldes.

Feito o dito. Ele era forte! Jogou a cruz sobre os soldados e correu para onde estavam os aliados. Cavalaria pronta, foi montar e sumir. Sua mãe não entendeu nada; o diretor da peça releu o roteiro e não encontrou tal cena.

Ele era inteligente! Nunca mais voltou ali. Dizem que aparecia de vez em quando pra pescar e beber vinho. Outros dizem que virou pastor e afundou uma igreja, no Rio.

As mulheres que o amavam ainda choram e aquela cruz não existe mais. Apenas um monte vazio onde sopra um vento leste. Quando é meio-dia, o sol escurece até as três da manhã, horário que os monges, xingando palavrões, acordam pra rezar o ofício.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 25/03/2019
Código do texto: T6606846
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.