O canto da lamentação

O canto da lamentação

Parte 1- A canção dos que se foram

Quando o dia morre e a noite se eleva

Os meus olhos aos teus se tornam nada

Quando o som do mundo abafa ao fim da tarde e lá fora,

Nao há nada

Apenas a imagem de um lado ao outro sobre a rua

A designar absoluta pretensão

Logo logo os pássaros recolhem-se

E afogam seu canto em harmonia

Vê como meus dedos escrevem-te em prosa?

É então que te vejo

Já na porta, com esses olhos de vidro

E esses braços vazios e as pernas rígidas

Que não se sustentam

A noite que chega, vai subindo devagar

E penetro em teus olhos, e não te conheço

Nao é a tua imagem no espelho que existe

Nem o teu reflexo sobre as águas que refletem....

O nada.

Ora! Não conheces, pois, o nada?

Ande, ande, se ao menos existisse...

O nada!

Que tristes ramos nessa tarde crescem

Doce frescor do vento em sinfonia

Na tenra idade são poucos os segredos

Que não se revelam

Mas porque, porque

Esse teu rosto sem carne

Essas lágrimas do teu peito

Não parecem sentir...O nada?

Olhai então os lirios do campo

Quando tu sentas diante de mim

Com esses teus braços que abraçam ao teu corpo, tal qual

O Prometeus Moderno

O que esperas que faremos mais tarde?

O que esperas que faremos sempre?

Correremos pelo mundo, em surdina

Com os cabelos soltos, em agonia

Esperneando-se pelas paredes

A espera de que não chova

Que dias são esses, que vidas são essas, que mal me conheço?

Que serei então o que vejo

Que penso então que serei eu?

Sou eu

Tirésias

Aquele que um dia viu a vida!

E agora escorrega por esse pântano, esses caminhos

Rumo ao desconhecido

aprumai as velas, ó homens

Homens do conhecimento, e homens da vida

Aprumai essas velas para que não deixemos

Essas águas gélidas nossos ossos consumar

Lembrai de Flebas, que um dia foi alto e belo como nós

Mas maria, maria

Que raízes são essas, que crescem

E se dispersam por todo esse solo arenoso?

Eu te vejo ali por entre os mortos, no elísio

Tu que tanto me disse que seria eu, o eleito.

Lá no jardim onde plantamos o seu coração

Lá em Creta, tu com tua pele branca e eu

Tão bravo, eu que me clamava augustus

Eu que em trono luzidos me sentava

E em altares meu coração pregava

Vejo aqui sobre essa chuva, a metamorfose

De tantos tempos memoriais, observai multidões

O som do rouxinol sobre essas planícies, a lamentar

“Donec eris felix, multos numerabis amicos;

tempora si fuerint nubila, solus eris”

Parte 2 - A grande queda

Em Veneza, não consigo discernir

Que diferença há entre a vida e a história

Há tanto tempo, me lembro

De correr pelas planícies áridas

E em minhas costas carregar a imagem

De Ahab, lá no barlavento

Enquanto ela escondia-se sobre as rochas

Onde estás, moby dick? Onde estás?

Que triste fim levou a nossa história

Que triste fim, levou a tudo

Doce brisa, leve brisa

Não carregues demais, ou todos

Rirão da tua imagem junto ao rio

E daqui vejo a cidade

Oh cidade, cidade, que saudade tenho

Desse teu néon luminoso, das chaminés implacáveis

Desse trâmite sempre em pressa, em jornais rasgados

Sua história conta, Seus pés mal suportam, e o caminho

Daqui, para a esquina, para a perdição,

Ja a muito se perdeu

na minha cidade

Eu nunca sei o que pensar

Corre, corre devagar, doce brisa

Mas não deixe de fora as folhas

Dessas árvores secas, nem o rouxinol

Que voa por entre as colinas

Ouço o triste Orfeu, ao longe

Oh amada

Sou eu, Cassandra,

e prenuncio a desgraça

Falei então eu com meu coração

“Sobrepujei-me em sabedoria a todos

Em Jerusalém, e eis que tudo era vaidade

Era aflição de espírito”.

Falei então eu ao espelho

Assim falava Zaratustra:

“O homem ao homem

A miséria transmite”

Oh céu azul, oh cidade

Com teus umbrais dourados

Nunca mais haverei de me repor

Sobre ti, nunca mais haverei de cantar

Dizendo a mim mesmo: “Recomponha-te”,

Nunca mais haverei de escrever em minhas terras

E esperar o inverno para que emudeça.

Mais tarde, já em casa, cansado, chega a mim Maria

E digo eu: eu, que nada esperava nem media esforços, para com nada!

"Um outro dia talvez, Maria

Um dia, apenas, é o que te peço"

Mas aí me diz ela, quando chega cedo

“O que estais a fazer? Ande logo, ande

Porque há coisas importantes, que precisam ser feitas"

“Porque tu faz isso comigo?" Perguntei, ande logo, ande

Ouça de longe a voz do trovão

Rindo como o mito de Sísifo, como

Tua vida,

tu não entendes, ninguém entende

Tudo é assim tão triste, tudo é assim tão triste

E eu não tinha como saber

Todos que estavam vivos, já morreram

Nós que existimos, agora sofremos

Eu poderia imaginar, que assim as coisas

Acabariam?

Como poderia prever de antemão

Essa decadência, como saberia de tais meandros?

A cidade está morrendo, está morrendo, logo logo

Volto-me a Veneza, e clamo ao senhor

Oh tu que estais aí, me levas

Oh senhor, me levas

Vejo então Teseu

Nesse labirinto, diz-me ele

Promete ao fim da tarde, retornar

Ah, mas que saudade tenho

De Ariadne! – Creso senta-se ao trono

Os seus impérios caíram, tudo ruiu

E todos atônitos assistiram a queda

De toda a civilização

E nós, como quem já não sabe

O que esperar, transmitimos ao mundo

a nossa bandeira

A espera de um dia tardio

Parte 3 - O cavaleiro

O cavaleiro solitário, com seu ermo

E somente sua cruz incrustada, sabe que em breve

Seus ossos sobre a terra se perderam

O príncipe, lá em cima de seu trono, o grande irmão

Em suas costas há grandes notícias, todas presságios

De nossa decadência

Mensagens de longe chegam pelo telégrafo, pela rua muitos caminham sem destino

Para o precipício, caminho

Para o fim, eu caminho, me lembro de quando

Eu era grande, me lembro dos dias

Que eu nunca imaginei, que assim terminaria, que eu nunca pensei

Que assim terminaria

Oh meus irmãos, que em teus corações, essas mensagens permanecem

Na voz da doce brisa que já foi embora

Hare Krishna, Bonjour ladies, bonjour madames, bonjour à tout

Yo soy un hombre solo

Om gurur Vishnu, au revoir

Andorinhas, até mais ver

Andorinhas

Pela doce brisa que escorre pela cidade

Será se um dia haverei de reeerguer

E por tudo isso em ordem?

A noite viva já se foi, e mesmo aqueles

Que de filomela herderam, a bravura

Nós todos agora agonizamos

E esperamos melancólicamente pelas noticias, daqueles que permanecem vivos

Como são bravos! Todos eles!

Herdeiros de tão longe, os filhos de Alexandre

Os homens do futuro

Mas onde estaria filomela?

Lembre-mos todos, dela

Lembre-mos dos moinhos de vento

Do baluarte, sobre a cidade de Frisco

"Daddy, I have had to kill you.   

You died before I had time"

"How frail the human heart must be"

Todos agora enlouqueceram

Parte 4 - A voz do silêncio

Ninguém se recorda do começo

Vejo então a imagem dela figurar por entre as sombras

Ela é uma modelo, e aparenta estar bem

Poderia eu chama-la para sair?

Poderia eu levantar-me na manhã morta

E gritar ao mundo batendo a cabeça

Sobre as paredes ensanguentadas

E mesmo assim ter a honra de dizer:

"Alea jacta est, "

o essencial é viver!

sobre o rio

Me ajoelho, o Rubicão, tão formoso

Quantas vezes sobre ele nao passaram

Tantas vezes pisoteado, tantas vezes sofrido

E suavemente corre a sua água de encontro à natureza

Uma ave preta, de olhar sombrio

Sobre suas asas esconde uma sentença horrível

Como um fantasma, nos ermos túmulos um dia

Foi ele refugiar-se em minha porta,

Oh ave preta, de olhar sombrio,

Teus olhos são como de Helena, do grande agamenon

Tua Pluma reluz como as jóias de cleopatra, do antigo Egito

Fegatello

Diz-me pois, ó grande ave, tão sábia quando os grandes sábios, tão triste quanto os grandes reis

Acaso existe algum bálsamo no mundo?

E a negra ave responde em sintonia

Com a glamurosa lenina, a mulher com a qual me entrelaço

Lenina e o selvagem sucumbiram,

Diz- me então a terrível ave:

"Nunca mais! "

Ouço então novamente

O trovão abrir a porta, e a chuva lá fora, entrar serenamente

Para dentro

Tu é tão triste, vamos por um sorriso nessa tua boca!

Anda, sorri um pouco!

Anda, nunca sorri...

Oh firmamento, eu que tinha quatro olhos

E apenas pernas para entender

A realidade

Sou filho de Tebas, do grande Spartacus, do alaúde

De pandora,

oh prometeu, prometeu

Que trouxe a luz ao mundo e a escuridão

Para si, como Pandora

Abri a gaveta, girando a chave

Bem devagar

Eu já estou perdido!

Ah, mas o que é isso?

Sim, sim, é apenas isso

Acostuma-te

Mas não posso

Eu não posso acordar amarrado

Com a boca atada a um horóscopo

E com os olhos presos no destino

Ansiar pelo dia

que tudo estará em ordem,

tudo estará

Perfeitamente construído

Como uma sonata ao luar

Henrich Henie, silenciou minha sentença

Como então poderei eu

Eu agricultor de toda a terra consumida

Estar feliz pela minha vida?

Crava sobre a terra então essa sentença

Vem de longe, vem de longe

Oh não, oh não,

eu sou um homem?

Serei eu então, Ivan

Alieksei Fiodorovitch,

A agua cai pela janela assim:

Drop drop drop, fito em silêncio

Sou eu um homem do tempo

Eu sou um homem, mon Dieu

Lá vai o céu de novo engolir

As minhas terras

Gritando então, oooooooooh ceu azul

O mesmo de minha infância

Sou poeta vivi morri e amei na vida

Abro então a porta, em minha vida

E mal alcanço o meu alento

Dura dura é a vida

Triste triste, tudo é

E o céu que me engole canta

Ridi paggliaccio, Il barbiere de serville

Tu que parece estar sempre aqui

Tu que já foi embora

Les temps son tout perdu

abraça-me pois

Namastê, a bientot

Diz o raio,

Marco antonio arrebatou-me

Os dias agora são outros

Eu que me entreguei a Ti

Eu que fundei cidades por minha doce Sybilla

Alguns pela bezela morrem

Outros pela verdade

Padecem

Oh senhor, libertai a minha alma!

Oh senhor, libertai a minha alma!

Que maçantes são, essas tardes fagueiras

Debaixo dos laranjais

Na minha frente, a cabeça decepada de dionísio

E o homem Vitruviano, na noite estrelada,

Será se tudo será diferente algum dia?

Será?

I would rather not to, diz meu amigo Bartleby

Gentis ou Judeus

Escrevo sobre a pedra

Ouço calmamente a voz do silêncio

Dans le ciel, dans le ciel

Gurur Devo

Yahwe, Allah, arruh-Mazda

oh grande Brahma

Tasmai sri

Hare

Hare krishna

Wilde
Enviado por Wilde em 24/03/2019
Código do texto: T6606128
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