MULHER ISOPOR
Caminhei pelas veredas da vida.
Tropecei em vultos e, desiludida,
Cai num bueiro onde o sonho
Faz morada.
Longo tempo passei adormecida,
Entregue às últimas despedidas
De um devaneio arrebatador.
Meio sonolenta, abri bem os olhos,
Já não me via entre espinhos e abrolhos,
Mas recordava amores de outrora,
Era preciso que novas auroras
Pintassem em mim telas sem sombras
Para que diante do mar e suas ondas
Eu pudesse descobrir um novo amor.
Um novo Sol descortinou-se diante de mim,
À noite a Lua clareou as nuvens e, enfim,
Pude abandonar aquele bueiro de solidão,
Deixar que a saudade desenhasse um coração
Onde a felicidade fizesse intenso abrigo
De alegrias ímpares que vivessem comigo
Sem qualquer dossiê que me lembrasse a dor.
Afinal o sorriso tornou-se minha espinha dorsal;
A vida, retrato de um inesquecível carnaval
Que me fez caducar ainda bem moça
Perante as estrelas das madrugadas insossas...
Tudo mudou depois do estágio naquele bueiro,
Agora vejo um mundo elegante e faceiro
Em que ser mulher não é ser de isopor!
DE Ivan de Oliveira Melo