A FACA
Migrei tudo que sinto como pessoa
para uma coisa que não conheço
ofereço a faca em tuas mãos
(ela, cortante em sua matriz)
não te peço favores
quero apenas que aceites a imolação
(frívola e cruel, mas, necessária)
sabes apenas que vivi
e se isso vale alguma coisa
o céu será pequeno demais
então aceita
esta lâmina cortante e afiada
decepa o que for necessário
e toma o que restou
e parti sem destino
levando no cós esta faca
(certeira e bárbara como a natureza)
enfim se não aceitares o sacrifício
esconde-se em tua alma
na frialdade que é fugir
que é se enterrar em vida
mas, sempre lá estará ela
(com o seu gume brilhante)
esperando tua decisão
sabes apenas
que a ferrugem corrói
e pode ser que quando decidires
finalmente imolar-se
a faca já tenha definhada
(desfigurada e coberta pela corrosão)
e, ao invés de se libertares
estarás contraindo um câncer.
(22/05/03)