Volver aos treze
Quero aquela tarde de chuva, em nossa casinha na roça. O cheiro do café fresquinho, direto do bule para a caneca. O biscoito de polvilho se quebrando na boca.
Quero o relógio caminhando lento, levando uma hora pra ir de quatro às quatro e meia. O sol insistindo entre as nuvens e elas me escondendo dele a dizer-lhe: "Hoje não, só amanhã!"
A Mãe, ainda sem óculos; o Pai, forçado a parar mais cedo o trabalho – só assim. “Hoje dá pra jogar dama!”. O Rossi, meu cachorro, fazendo bagunça com a água, balançando-se e molhando todo o alpendre. O chão com cimento amarelão, com os rachados que até hoje sei exatos na lembrança.
Quero o banco de madeira na cozinha, no qual escrevi meu nome com a ponta do canivete, e a conversa fluindo calma, sem filosofia. Minha irmã fazendo janta e, depois de longo silêncio: "Que bom que não tem aula hoje, né?".
O barulho da água caindo no terreiro, a noite descendo por trás da serra da Ventania, o mistério se estendendo sobre tudo e me fazendo querer ver logo chegar segunda-feira para encontrar a Jô na escola e sentir a face me esquentar vermelha diante do seu olhar; eu, sem voz, contente apenas de fotografá-la na memória para o resto da vida.
Quero encontrar o deus do tempo e oferecer-lhe o sacrifício que for preciso para ter de novo meus treze anos, ainda que por uma tarde apenas.