Branco

E a fada branca adentra o seu salão marmóreo. Arrastando seus cabelos longos a exalar perfumes. Dos vitrais transparentes, reflete-se o lume matinal que revela as hídricas gotículas que restam da neblina. E cristais se criam dessa luz tilintando sobre as pedras calcárias, que se refrescam sob uma fina camada de orvalho. Os diamantes, que demarcam os caminhos, e que ora brincam durante o parto de uma radiante aurora, explodem irradiando um brilho de estelas, e se lançam no espaço prata, como cometas diurnos. No jardim, uma imensidão de flores brancas se estende sobre o vale em busca das dunas distantes e as pétalas brancas - o único e indispensável pão - nos servem de alimento, juntamente com o leite que emana do seu caule. Enquanto isso, as borboletas brancas, em piruetas ligeiras, sobrevoam uma réstia de névoa que vasa por entre os galhos que fragorosamente vibram no vapor da brisa.

Toda essa festa é para ela, a Rainha da Manhã, que desfila sobre as lápides sem flores, de onde renasce o tempo no calor de um novo dia. E os sorrisos se desprendem dos dentes que se mostram, nos olhos que se abrem, e nas faces que se esticam refletindo o ofuscante sol. As horas quase param, os relógios quase vibram, e o sempre se apresenta numa cascata que reluz essa expansão de brilhos, para eclodir finalmente no patamar deste momento.

No lírio deste novo dia, que desabrocha em resplandecente renascer, irradiamos a esperança das crianças que se riam inocentes, o cantar dos pássaros que nos convidam a seu sarau, o calor do Sol cuja vibração anima a matéria, e o resplendor da vida que nos revela, enfim, a sua face eterna!

D.S