DELÍRIO

Rio, 14/09/90.

Olhava da janela

O jardim sem flores

E a flor na tela

E as cores nela.

Os olhos viam,

Mas não liam.

A boca ria,

O ouvido não ouvia,

Quem cria?

O pensamento voa

O barco tem proa

O pássaro canta

E quem se levanta?

Quem se lança?

A morte chega...

E se morre um pouco,

Cada dia se morre?!...

A vida está no ventre

E quem se mistura entre

Não é diferente.

Tens ouvido de mercador?

Não ouves a dor?

O ensinar tem a razão

A razão contém virtude

E quem pensa ter muito poder

Morre sem saber

Que melhor é crer.