Mortos meus

quando estou triste - hoje estou triste

uma saudade antiga me visita.

não quero confessar, mas confesso:

ando sentindo falta de vocês

meus mortos.

minhas mãos constroem gestos de abraços

e abraço vocês - meus mortos.

vê esta lágrima? ninguém vê!

mas sei que os meus mortos veem.

sei que eles caminham comigo

e me perguntam por aqueles que ainda estão aqui.

perguntam pela cidade que me fere.

querem saber de outros mortos.

mas não sei nada...

sei que a cidade não é a mesma.

sei que meus irmãos andam distantes.

sei que viver é sentir esta dor insuportável.

é ver este corpo decadente

preso a tantas ilusões.

hoje estou triste, porque um morto meu me visitou.

acredita?

ele me disse que anda triste

porque ando triste.

mostrou que seu filho é um pedaço dele

que nele existe!

quando estou triste - hoje estou triste

este mar que quebra aqui dentro

deságua em uma rua em mim...

a rua da minha infância é maior do que o mar

e caminhar por ela é atravessar o mundo - este mundo

que nunca coube dentro dos meus olhos.

ah, meus mortos, como é difícil viver sem vocês aqui!

Marco Xavier
Enviado por Marco Xavier em 02/03/2019
Reeditado em 05/03/2019
Código do texto: T6587932
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