Mortos meus
quando estou triste - hoje estou triste
uma saudade antiga me visita.
não quero confessar, mas confesso:
ando sentindo falta de vocês
meus mortos.
minhas mãos constroem gestos de abraços
e abraço vocês - meus mortos.
vê esta lágrima? ninguém vê!
mas sei que os meus mortos veem.
sei que eles caminham comigo
e me perguntam por aqueles que ainda estão aqui.
perguntam pela cidade que me fere.
querem saber de outros mortos.
mas não sei nada...
sei que a cidade não é a mesma.
sei que meus irmãos andam distantes.
sei que viver é sentir esta dor insuportável.
é ver este corpo decadente
preso a tantas ilusões.
hoje estou triste, porque um morto meu me visitou.
acredita?
ele me disse que anda triste
porque ando triste.
mostrou que seu filho é um pedaço dele
que nele existe!
quando estou triste - hoje estou triste
este mar que quebra aqui dentro
deságua em uma rua em mim...
a rua da minha infância é maior do que o mar
e caminhar por ela é atravessar o mundo - este mundo
que nunca coube dentro dos meus olhos.
ah, meus mortos, como é difícil viver sem vocês aqui!