O Berro do Gado

O Berro do Gado

“O gadinho que berrava

A cruel seca levou

Tudo quanto eu amava

Com saudades me deixou”

Ê vida de gado ê, ê, ou.

Assim entoava o vaqueiro

Em horas de poesia

Tristonho frente ao terreiro

Tragando a sua agonia

A caatinga que tão bela

Ano de seca é fornalha

O cavalo já não sela

Por montaria a cangalha

Sua tristeza aflorava

Os versos de um cantador

Os chocalhos, balançava

Aumentando a sua dor

Versificava o sertão

Desbravando num poema

Metrificava o gibão

- Vida de gado, o dilema

A morte veio a galope

Num triste laço certeiro

Acertou de um só golpe

Um poeta e um vaqueiro

Hoje não tenho sua rima

Nem seu cantar de improviso

Só nos restou essa sina

E na memória um sorriso...

O poeta que aboiava

A cruel morte levou

O vaqueiro que cantava

Com saudades nos deixou

Ê vida de gado, ê, ê, ou...