Medo de ir

Uma garça-branca

Tímida e arraigada

Não saiu do seu lugar

Apegada aos seus “hangares”

Via o além como uma farsa

Não acreditava em além-mares

E não queria a sua vida mudar

E o romeiro cheio de fé

Não saiu em romaria

Um devoto de São Tomé

Acreditava que onde vivia

Era o alvo da peregrinação

Sagrava-se na Eucaristia

Benzia-se o imóvel cristão

E o circo da petizada

De palhaço, trapézio e ginastas

Prendeu-se como um teatro

Cansou a todos, com o mesmo ato

Assim a magia viu-se gasta

Nunca migrava aquela tenda

A graça perdeu-se sem senda

A garça-branca se rendeu sem verão

Do romeiro se esvaiu a oração

Do palhaço ninguém mais ria

Sozinhos meditaram os ciganos

Que outras estações havia

Ficaram, e cerraram os panos

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 28/02/2019
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