Medo de ir
Uma garça-branca
Tímida e arraigada
Não saiu do seu lugar
Apegada aos seus “hangares”
Via o além como uma farsa
Não acreditava em além-mares
E não queria a sua vida mudar
E o romeiro cheio de fé
Não saiu em romaria
Um devoto de São Tomé
Acreditava que onde vivia
Era o alvo da peregrinação
Sagrava-se na Eucaristia
Benzia-se o imóvel cristão
E o circo da petizada
De palhaço, trapézio e ginastas
Prendeu-se como um teatro
Cansou a todos, com o mesmo ato
Assim a magia viu-se gasta
Nunca migrava aquela tenda
A graça perdeu-se sem senda
A garça-branca se rendeu sem verão
Do romeiro se esvaiu a oração
Do palhaço ninguém mais ria
Sozinhos meditaram os ciganos
Que outras estações havia
Ficaram, e cerraram os panos