DESPIDA

Retiradas as vestes dispo-me ante o espelho, (uma centelha?)

olho demorada e criticamente a minha imagem refletida.

Intuo uma pergunta a nao calar-se nesse olhar de esguelha

que devolve o meu olhar a perscrutar-me mágoas escondidas.

Sorrio, levemente. Ironicamente. Todos guardam segredos.

Segredos por vezes inconfessáveis até para si mesmos,

e, no entanto, sem a nudez da alma, vive-se em perene degredo.

Despi-me, todavia continuo usando as máscaras sorteadas a esmo.

Vejo sombras escurecendo o riso. Como que veladas pelo medo

lágrimas ocultas, retidas em mudo pranto, tormentoso, sufocante,

detém o exame minucioso da alma despida. Porém, Não cedo!

Torno a olhar o espelho refletindo-me nua, imperscrutável:

Fito a miragem espelhada, buscando a essência que hospedo,

promovo o encontro secreto da metamorfose indecifrável.