Chappie

O rapaz robô

Sem rosto, feito de lata

Quis empunhar um coração

Para deixar de sentir com a cabeça

A saudade do próximo

A companhia doutras coisas

Preso em botões e circuitos

O sistema de si

Que aprendeu a ler

E decifrar as más lições

Hoje defende-se dos homens

Já mais evoluído

Cresceu por dentro

Essa parte que se desmonta diariamente

Não se deixa apagar

Quando os fios são desligados

Hiberna para sonhar

E faz louvar a ciência

Não quer servir para a caça

Surpreende a criação

Aos demais iniciados

Cuida como a seus irmãos

Fala com determinação

Importa-se, quer cuidar

Mas o inchar do conhecimento

No seu cérebro de aço

Fez nascer a fome temida

A de viver de verdade

Chappie chorava

Sem lágrimas para derramar

Após balas enfurecidas

Atravessarem seu peito

Sem coração a bombear

Suas mãos robóticas tremiam

E as faíscas à volta do corpo

Fizeram-no expor o medo

De acabar enterrado

Numa sucata qualquer

Como se nunca tivesse sido criado.

Widralino
Enviado por Widralino em 24/02/2019
Código do texto: T6582970
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