Chappie
O rapaz robô
Sem rosto, feito de lata
Quis empunhar um coração
Para deixar de sentir com a cabeça
A saudade do próximo
A companhia doutras coisas
Preso em botões e circuitos
O sistema de si
Que aprendeu a ler
E decifrar as más lições
Hoje defende-se dos homens
Já mais evoluído
Cresceu por dentro
Essa parte que se desmonta diariamente
Não se deixa apagar
Quando os fios são desligados
Hiberna para sonhar
E faz louvar a ciência
Não quer servir para a caça
Surpreende a criação
Aos demais iniciados
Cuida como a seus irmãos
Fala com determinação
Importa-se, quer cuidar
Mas o inchar do conhecimento
No seu cérebro de aço
Fez nascer a fome temida
A de viver de verdade
Chappie chorava
Sem lágrimas para derramar
Após balas enfurecidas
Atravessarem seu peito
Sem coração a bombear
Suas mãos robóticas tremiam
E as faíscas à volta do corpo
Fizeram-no expor o medo
De acabar enterrado
Numa sucata qualquer
Como se nunca tivesse sido criado.