"Mundeiros"
Ele saía de casa
Levava a vida a sério
Café esquentado na brasa
Pedra com pedra, com critério
Ele saía de casa
Saía para fazer casas
Montava coisas que o engenheiro
Desenhava para ele pedreiro
O pedreiro cruzava rios
E também fazia pontes
Tão altas que davam calafrios
O engenheiro ligava horizontes
Criava casas com grades
Que prendiam tanta gente
Eram casas sem liberdade
Que amontoavam indigentes
O engenheiro era cristão
Engendrou casa com cruz no alto
E como se numa aparição
Ergueu uma igreja num sobressalto
O pedreiro pouco lia
Levantava casas de ensino
O engenheiro o aturdia
Arquitetando casas de tino
O engenheiro então sonhou
Com uma casa até as nuvens
Mas foi o pedreiro quem amontoou
Tijolos como se convém
A casa ficou tão grande
Deixou um mundo aqui embaixo
Uma casa sem alpendre
Deixou o pedreiro cabisbaixo
O pedreiro e o engenheiro
Se tornaram então “mundeiros”
Ganhou o céu o pedreiro
O engenheiro ganhou dinheiro