GANGORRA

O trânsito,

o transe,

o meio e fim do nada.

O espectro

da sordidez

na feiura do espelho.

Tsunamis

de barcos à deriva

na maré de sangue.

O espaço

entre as paralelas

curvado pelos anos.

Os bordéis,

os templos,

santos e santificados.

As filas

dos esquecidos

e dos convidados.

A roupa

como molde

do caráter.

O script,

o ensaio,

da extrema-unção.

O apogeu

dos mitos

doentios e fugazes.

O cheiro

da podridão

nas calçadas e praças.

O som,

o néon,

decibéis viciados.

Os versículos

dos ventrículos

que terminam em amém.

As variáveis

do teorema quântico

escrito nas estrelas.

A esperança

que grita

no desenho cego.

Então se esqueceram

de me balançar

na gangorra.