Companhia
Pedi a ela que passasse a roupa, que passasse
Um tempo aqui dentro de mim, como uma folha
De papel em branco, como uma folha de outono,
Não, não queria que ela ficasse triste ou coisa parecida
Mas que aparecesse de vez em quando para molhar
As plantas no jardim, pedi que viesse quando pudesse
Ou quando quisesse, pedia a ela que improvisasse um
Fim de tarde para nos divertir um tanto, um tanto
Sozinho às vezes me sinto, assim calado olho o tempo
E as plantas no jardim
Pedi a ela que passasse um café, que acreditasse na
Sua fé feminina, na sua crença em dias melhores, nas
Dores da vida, mas também em suas alegrias femininas
Sempre há tempo bom depois das chuvas de verão
Sempre há alguém que acredita em algo melhor, melhor
Que estar sozinho e nos fazer a própria companhia
Tenho tantas manias, acredito em coisas doutro mundo
Ela me disse que tinha 32 anos de vida e de caminhada
Eu caminhei até ela, e ela me deu um abraço de mar
Com o ar nas narinas a respirei profundamente, aquele
Cheiro feminino assustado me encheu de esperança
A gente morre de cada jeito diferente todos os dias
Mas naquele instante senti que a vida respira na gente
De um jeito qualquer de nos pirar, ela ali parada mais
Que se movimentava em mim, parecia um vento do norte
Uma neblina fina sobre meus olhos velhos e chorosos
Pedi a ela que passasse o açúcar, que passasse
Um dia qualquer no meu tormento, como uma
Abelha fazendo mel, como uma cigarra a cantar
Como quem me conhecesse naquele dia, mas que
Fosse como uma antiga amiga a passar a tarde
Em meu pensamento.
Milton Oliveira
14fev/2019