O ANDARILHO
Da poeira da estrada o sujeito
Um entre tantos andarilhos
Na travessia de seu caminhar
Houvera tiranos e caudilhos
Esconderia qual segredo
Vencido momento de medo
Apertando os nós no peito
Arrisquei-me perguntar:
Quem era, de onde vinha
Amigo ou inimigo da rainha
Olhar de fera, fitou-me sério
Mostrou-me uma cicatriz
E outras de batalhas diversas
Contra romanos e persas
Aprendera ser todo dia aprendiz
A desvendar novo mistério
Será que dia descobriria
Por que o trovão dá grito de dor
Se é o raio quem dá a luz?
Por que Sol promete calor
Tarde brilhante e de repente
Noite fria e escura sem vela?
Que hora a verdade se revela
Quebram-se ovos de serpente
E sabe-se quem está com a gente?
Sem mais fez-se silente
Apontou o horizonte à frente
Murmurou ao ir embora:
A Boca é caixa de Pandora
Bem melhor manter fechada
E sumiu na poeira da estrada