Poema inocente
De tão alto
Que flutuei
Em minha
Indulgente imaginação,
Quase cheguei a tocar
A corada pele do céu.
A queda acordou-me,
E o impacto foi verdadeiro.
Não fora a primeira vez
Em que pude
Tirar os pés do chão.
Perdi o controle,
Quebrei o ritmo,
Culpei a vida,
A vida castigou-me.
O tempo estava
Demasiado apressado
Para alguém que estivera
Tão descompromissado
A ponto de aceitar
Construir das ruínas
Um fantasioso escapismo.
Era um quarto
Cheio de rosas,
Cartas de amor
Incompletas espalhadas
Pelo chão perto
Da escrivaninha
Banhada pela manhã.
Copos meio cheios,
Copos meio vazios.
A companhia de alguém
Que verdadeiramente importa,
Confortando-se na segurança
De estar bem ao seu lado.
Enterrado nos braços
De quem lhe deu
Uma salva de propósitos
Como uma gratidão
Por sua presença.
Um corpo que aquece um corpo
Indo através dos dias frios.
Pensamentos que
Te põem em um
Transe sonífero
À mercê de suas
Próprias vivas consciências.
Entorpecido demais para falar,
Lúcido em excesso para escrever.
Ainda há um fraco
Gosto doce entre o amargo
Que censura os sabores
Que ecoavam pelo paladar
Dando o prazer de experimentá-los
Infinitamente, sem enjoar.
Horizonte como um reflexo
De todas as emoções
Em diferentes moções.
Uma disposição ensolarada
Interrompida pelo eclipse.
É um jardim tão bonito
Que essas flores
De ingenuidade compõem.
O outono firmará
Suas intenções
Em murchar todas elas.
As evitadas verdades
Serão ditas
De uma forma
Em que aceitemos
As mais absurdas
Das condições.
O preço por sonhar
Virá em palavras
Inocentes que
Dilacerarão tudo
O que reprogramamos
Em nossas mentes.
O céu voltará a ser
Apenas uma mera
Beleza aos olhos,
Sem esperanças
De um dia poder tocá-lo
Com os dedos
Que anseiam em antecipação.
E quando ver novamente,
O quarto estará vazio.
Sem cartas, sem rosas,
Sem copos e sem
A presença de
Uma sempre cobiçada
E impossível paixão.