Poema inocente

De tão alto

Que flutuei

Em minha

Indulgente imaginação,

Quase cheguei a tocar

A corada pele do céu.

A queda acordou-me,

E o impacto foi verdadeiro.

Não fora a primeira vez

Em que pude

Tirar os pés do chão.

Perdi o controle,

Quebrei o ritmo,

Culpei a vida,

A vida castigou-me.

O tempo estava

Demasiado apressado

Para alguém que estivera

Tão descompromissado

A ponto de aceitar

Construir das ruínas

Um fantasioso escapismo.

Era um quarto

Cheio de rosas,

Cartas de amor

Incompletas espalhadas

Pelo chão perto

Da escrivaninha

Banhada pela manhã.

Copos meio cheios,

Copos meio vazios.

A companhia de alguém

Que verdadeiramente importa,

Confortando-se na segurança

De estar bem ao seu lado.

Enterrado nos braços

De quem lhe deu

Uma salva de propósitos

Como uma gratidão

Por sua presença.

Um corpo que aquece um corpo

Indo através dos dias frios.

Pensamentos que

Te põem em um

Transe sonífero

À mercê de suas

Próprias vivas consciências.

Entorpecido demais para falar,

Lúcido em excesso para escrever.

Ainda há um fraco

Gosto doce entre o amargo

Que censura os sabores

Que ecoavam pelo paladar

Dando o prazer de experimentá-los

Infinitamente, sem enjoar.

Horizonte como um reflexo

De todas as emoções

Em diferentes moções.

Uma disposição ensolarada

Interrompida pelo eclipse.

É um jardim tão bonito

Que essas flores

De ingenuidade compõem.

O outono firmará

Suas intenções

Em murchar todas elas.

As evitadas verdades

Serão ditas

De uma forma

Em que aceitemos

As mais absurdas

Das condições.

O preço por sonhar

Virá em palavras

Inocentes que

Dilacerarão tudo

O que reprogramamos

Em nossas mentes.

O céu voltará a ser

Apenas uma mera

Beleza aos olhos,

Sem esperanças

De um dia poder tocá-lo

Com os dedos

Que anseiam em antecipação.

E quando ver novamente,

O quarto estará vazio.

Sem cartas, sem rosas,

Sem copos e sem

A presença de

Uma sempre cobiçada

E impossível paixão.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 12/02/2019
Reeditado em 12/02/2019
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