Em letras
Eu queria viver de letras
como os homens vivem de dinheiro.
Acordar numa anedota,
espreguiçar um trocadilho
e escovar meus palavrões no banheiro.
Eu queria me manter em letras
de anotações, não de notas de dinheiro.
Assistir contos brincando na rua,
transar em longas conversas cruas,
e pagar a pizza com um soneto.
E ser e evoluir das letras,
como se convencem que é possível, com dinheiro.
Descansar num folhetim de solteiro.
Escrever uma jura secreta, em segredo.
E temperar um novo romance, ao roteiro.
Eu queria viver de letras
como os homens vivem de dinheiro.
Mas no máximo ensaio um ensaio,
um capítulo de peça, um draminha
uma verso bem simples, mas poesia,
como uma sopa de letrinhas.
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Hygor L.B. Marques