Devir
Parte I
A sobriedade me embriaga
sinto me inútil, incapaz
fútil,engrenagem,capataz
Moribunda'lma que vaga
Bovino à espera do corte
Vala que acumula detritos
Delivery de dejetos infinitos
entusiasta na ante-sala da morte
sinto o desespero de não ser
maldita a sobriedade nos faz
pílulas na língua de Satanás
implorando para se sorver
Parte II
Viver me fez desconfiado demais
A ponto de descrer na benção dos venenos
a ponto de desver a crença dos veremos
ao ponto do autoflagelar conceder paz
E o melhor ou pior é que não estou só
sou um grão de areia dos sóbrios gados
persistentes, resistentes, enjaulados
moldados no fogo até um dia virarem pó
Parte III
por isso nesse epitáfio
escrito com lapsos ébrios
revelo o cenotáfio prévio
De um maquiavélico sáfio
prefiro as noites mal dormidas
do que falsas calmarias
quero mesmo aventuras mal vividas
desejo os livros que ninguém lia
prefiro a dose mais forte
escolho o caminho mais tortuoso
me encanta um sorriso desgostoso
não creio em boa ou má sorte
Parte IV
Deixo o epitáfio em aberto
sou incerto
sou lar
sou longe, inalcançável
sou perto
Inflamar
armar e desarmar
Excerto
transparente,
transpirar
encoberto
Sou errar,
apaixonar,
sou certo
Sou mar,
sou amar
sou deserto