Devir

Parte I

A sobriedade me embriaga

sinto me inútil, incapaz

fútil,engrenagem,capataz

Moribunda'lma que vaga

Bovino à espera do corte

Vala que acumula detritos

Delivery de dejetos infinitos

entusiasta na ante-sala da morte

sinto o desespero de não ser

maldita a sobriedade nos faz

pílulas na língua de Satanás

implorando para se sorver

Parte II

Viver me fez desconfiado demais

A ponto de descrer na benção dos venenos

a ponto de desver a crença dos veremos

ao ponto do autoflagelar conceder paz

E o melhor ou pior é que não estou só

sou um grão de areia dos sóbrios gados

persistentes, resistentes, enjaulados

moldados no fogo até um dia virarem pó

Parte III

por isso nesse epitáfio

escrito com lapsos ébrios

revelo o cenotáfio prévio

De um maquiavélico sáfio

prefiro as noites mal dormidas

do que falsas calmarias

quero mesmo aventuras mal vividas

desejo os livros que ninguém lia

prefiro a dose mais forte

escolho o caminho mais tortuoso

me encanta um sorriso desgostoso

não creio em boa ou má sorte

Parte IV

Deixo o epitáfio em aberto

sou incerto

sou lar

sou longe, inalcançável

sou perto

Inflamar

armar e desarmar

Excerto

transparente,

transpirar

encoberto

Sou errar,

apaixonar,

sou certo

Sou mar,

sou amar

sou deserto

Rangel Paiva
Enviado por Rangel Paiva em 10/02/2019
Reeditado em 10/02/2019
Código do texto: T6571753
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