Como se fosse a última vez
Vislumbro mais uma vez
Cada passo dado,
Sorrio pelo contentamento
Que traz-me a realização
Como se fosse a última vez.
Projeto os sentimentos
Em cada tonalidade
Pintada no vazio do céu,
Alegro-me por sua empatia
Como se fosse a última vez.
Despojo a inspiração
Existente em cada
Maquiada aflição,
Extraio a beleza
Existente na lamúria
Como se fosse a última vez.
Moldo-me e crio-me
Na respiração de
Minhas palavras
Pelos versos que
Escapam de meus
Confidenciais segredos
Como se fosse a última vez.
Bebo do vinho venenoso
Materializado por cada
Uma das sensações estrangeiras
Que dominam os
Últimos resquícios de racionalidade
Do ingênuo coração
Como se fosse a última vez.
Uso da vida
Como um meio para
Colher e plantar
Sórdidas volúpias
Como a mais doce
E inescapável consequência
Como se fosse a última vez.
E como se fosse a primeira vez,
Permaneço orbitando
Em uma acolhedora gravidade
Que tira-me do chão
À poder ver cada verdade
Se revelando na ausência de repostas
Que o tempo provê
Como conflitos de dualidades
Agarrados numa tênue solidão.
Torno-me sábio
Ao saber de nada,
Mas ser lúcido
De que isso será tudo
O que um dia saberei
E chegarei a me tornar.
Afogo-me na dúvida
Se esta será a última
De minhas fantasiosas
Respostas às questões
Que nunca verão a luz
De sua derradeira resolução
Caindo e cintilando sobre si.
Jogo fora tardes,
Noites e madrugadas
Para progredir no pensamento
De que esta será a chave para
Cada sofrido desentendimento,
Porém acordo-me noutro dia
Apenas para encontra-me de volta à
Repentina estaca zero.
Perdoo-me por tratar-me
Com as piores intenções.
Aprendo pelas cicatrizes,
Curo-me em decisões
As quais uso os ensinamentos
De minhas ardentes
Marcas de hesitação.
De relance, sorrio
Quando não há
Mais nada para
Ser dito ou feito,
Conforto-me na afirmação
De que o inócuo hoje
Será o esquecível ontem
Em questão de apenas
Mais algumas breves eternidades
Como se fosse a última vez.