O fim

Janeiro é um mês terrível

Passado e futuro, fundem-se em um mesmo instante

Dor e realidade, misturam-se sob uma chuva de agonia

Em uma tarde de descanso e desolação

Prenunciam-se a aurora dos novos tempos

Não! Devo esquecer-me,por fim?

Devo ir-me por fim, ao fim da rua, ao fim do sonho?

Que dias são esses que mais parecem

Miragens, rios de prata correm pela cidade, nesse mesmo céu

Onde em vão se traduzem, sentimentos, poesias, cantorias...

Vejo homens cegos e terras famintas

Nao...O tempo é injusto e a vida é curta

Vejo o amor entre placas e pedregulhos

Onde tudo parece tão simples

Tão irreal.

Ausente de corpo e alma

Entrego-me aos lamentos, e os abraços, São tãos frios,

e os amores,

São tão mornos

.

Desesperados, nos colorimos e nos reescrevemos

São novas verdades, novas evoluções

Devo apagar-me, ou suicidar-me?

Não...

O tempo presente, ainda tardio

Há de me trazer o brilho

Vá! Disse-me o espelho

Vá! Disse-me a janela

A humanidade é frágil, e tu, o que esperas?

Que teus amores te beijem em uma tarde qualquer...

Em meio a insônias e meias verdades

E os titãs te ergam para além do horizonte

E tu, feito coisa última

Em meio ao escárnio de tua frágil alma, dirá a eles

Contemplem! Oh homens fúteis, de um mundo perdido

Diante da imagem do novo Ozymandias!

E sob as areias do deserto

Que sequer conheço, feito um sonho

Me remetem a recordações que sequer compreendo

Dos dias em que eu sequer existia

Andava pela cidade em uma noite de angústia

Em uma rua qualquer, quando vi uma velha amiga

Maria! Não te recordas

Quando destruímos os persas, em termópilas, com nossas lanças

Subjugamos realezas! Oh.

Que dias gloriosos foram aqueles

Quando toda a sociedade cabia

Em um retrato de arte, e alegremente

Trazíamos a morte, em nome da ordem

Não te recordas, quando expulsamos os sarracenos, em décadas da glória, da eterna cidade?!

Quando a humanidade contemplou, atônita, todo o poder de nossa piedade

E praguejamos a eles que a glória do mundo, recairia sobre nossas mão?!

E observaram, incrédulos, enquanto a realidade se ajoelhava sobre nossos sonhos!

Tu não te recordas

Quando invadimos a Normandia

Sob um céu, tão vermelhos e tão magro?!

Eu nunca imaginei que a morte destruiria a tantos

Nunca imaginei que a verdade recairia sobre tantos

Nunca acreditei que o fim chegaria a tantos

É tão difícil dizer adeus

Quando Deus sequer ouve nossas preces

Mas não há nada de novo debaixo do sol

Oh, o meu coração

Agora é um quarto escuro onde nada se vê

E nada se sente

Ignoro retratos! Desprendo-me desse e aquele arquétipo de vida,

Rasgo poemas, amo a manhã, e a noite pra mim, não existe

Que noite é essa, sem estrelas, de tanto tempo,

quando eu queria amar, quando eu queria ser, real...

Quando queria sentir...

Vejo tua face por fim

E nada sei, o que dizem

Eis a Brígida dos velhos tempos!

A Afrodite dos tempos de crises

Em vão te contemplo

Queria amar-te, queria abraça-la

E me dói tanto, me trazes uma flor

Me trazes o amor...

Em uma tarde de sol, quando desejei

Com meus dedos, a se entrelaçar nos teus dedos, e meus olhos

Em teus olhos a observar estagnado

O abismo

Enquanto tu me dizias que isso não era o fim

E eu vi a arte criar vida ente meus dedos

Enquanto eu via o sol a abrasar

O meu cadavérico semblante

E a sede dos povos aos meus pés

Se ergueram contra toda a sina

Do mundo moderno

Todo o ouro e toda a festa não há

De te subjugar

Nem toda a palavra há de te curvar, para o abraço do homem

Oh maria, tu nada verás

Me ame antes do fim, dos dias em que nunca amamos, a eternidade

Em que nunca fomos,

tão intensos, quanto um fósforo frio...

E rasgamos calendários, beijamos o vento e lentamente redesenhamos

Toda a ciência do mundo perdido.

Era um dia de dor quando os vi, todos a olhar para a morte ante seus olhos

Lhes dei o dom e as roupas de inverno

Mentira e verdade a se entrelaçarem, rente as colunas

E os vi derrotados aguardando ao círculos do ouroboros

A serpente do eterno é a mesma

Do jardim do éden

Todos os nossos pecados são os mesmos ao longo do tempo

E em vão cantaremos aos nossos irmãos

Satyagraha, ubuntu, meus conterrâneos

Vejo diante de teus olhos as montanhas de frio em que forjaram-se as tuas culturas

Que em desespero nos abrasam para todo mundo

Transmitindo esses sentimentos tais-

Essas mensagens tais-

Amor e paciência,

Canto e desolação.

oh shanti, shantii...

Wilde
Enviado por Wilde em 07/02/2019
Reeditado em 07/02/2019
Código do texto: T6569338
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