QUEM SABE TENHA SECADO SEU SANGUE

Certas caminhadas a dois já esgotaram seu pavio,

já minguarem sua fonte,

já expulsaram seus encantos.

Então vamos indo a esmo,

seguindo pra onde o vento manda,

seguindo pra onde o nada diz.

Pode-se ficar nessa lida por todos anos,

ignorando cheiros que passam rente,

desprezando chãos que seriam lindos.

Talvez ainda reste um fiapo de paixão,

meio encardida, meio esgarçada,

meio doída pelo tanto que o tempo machucou,

deixou de acudir, deixou de lembrar.

Esse fiapo de paixão pode virar pó

como os demais,

ou agigantar seu gosto, como nunca imaginou,

ressuscitando aquela história que jazia enterrada,

esperando só os vermes se deleitarem e nada mais,

nada mais.

Ou, quem sabe, tenha secado seu sangue,

triturado seus ossos, despedaçado sua alma,

e perdido o último sopro de vida que guardava

em algum canto qualquer.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 07/02/2019
Código do texto: T6569064
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