UMA ENGRENAGEM ANTIGA

Fosse eu uma máquina de Deus, bem azeitada e eficiente

Talvez já tivesse dado pino e mofado num canto

Fosse talvez mais sagaz que o câncer teria eu evoluído como ele?

Fosse minha juventude menos desperdiçada e vulgar seria eu um ser menos tácito?

Qual semblante talvez me teriam vendido naquela liquidação de prazeres e jogos tão populares?

Foste você ou eu?

Que me importa o autor senão o crime...

Que qualidade eterna tem uma máscara?

Fosse ela bela ou caricata...

Num prazo indefinido todos caímos

Pra ressurgimos como inspiração ou piada

Partes de um retrato e fragmentos de uma memória coletiva

Fosse sincera ou não...

Qual a relevância?

Uma lenda não morre, mas todo o resto sim...

As areias à tudo soterram e os relógios nunca param

Feixes de luz sobram num quarto inabitado

Mas onde há escárnio certas bênçãos se retratam

E todos somos passíveis de um convite e do vício que vem depois...

Não fosse a velha coerência

Qual e tal uma engrenagem antiga e dócil

Calibrada num tempo preciso e afinada numa era de razão.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 05/02/2019
Reeditado em 05/02/2019
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