Rosto de trabalhador ao entardecer
Em seu semblante
resumia-se toda a angústia
de quem vive com as mãos a trocar,
diariamente,
a barra de apoio do ônibus lotado
pela colher de pedreiro.
Ao fim do dia,
a colher pela barra.
A barra... A colher... A barra...
Não houve tempo
em sua vida
para o afago dos cabelos do filho,
nem da pele morena de sua companheira
[em outro ponto da cidade também oscilava entre o trabalho e o ônibus]
embora os tenha amado à primeira vista
e neles encontrasse
um resto de razão para viver.
Desceu no ponto de baldeação.
E sumiu na multidão.
Só o viu quem tinha olhos pra ver.
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