Rosto de trabalhador ao entardecer

Em seu semblante

resumia-se toda a angústia

de quem vive com as mãos a trocar,

diariamente,

a barra de apoio do ônibus lotado

pela colher de pedreiro.

Ao fim do dia,

a colher pela barra.

A barra... A colher... A barra...

Não houve tempo

em sua vida

para o afago dos cabelos do filho,

nem da pele morena de sua companheira

[em outro ponto da cidade também oscilava entre o trabalho e o ônibus]

embora os tenha amado à primeira vista

e neles encontrasse

um resto de razão para viver.

Desceu no ponto de baldeação.

E sumiu na multidão.

Só o viu quem tinha olhos pra ver.

.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 04/02/2019
Reeditado em 04/02/2019
Código do texto: T6567145
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