Digitais da alma...

Precisamos muitas vezes na vida

despirmo-nos de nós mesmos; e,

calados, apenas ouvir o que vem

de dentro do nosso eu aquietado!

Às vezes é preciso conversar

acaloradamente com a parte

calma que vive na dormência

dos dias mornos da nossa vida!

Sentar-se ao pé do anjo falso

que carregamos como fardo

ao longo dos anos, e, de dedo

em riste lhe mostrar verdades

há muito reprimidas na nossa

moral de gente sã e acalmada!

Rasgar esta falsa roupa de cetim

que adorna-nos e cobre a parte

suja que pesa nos nossos ombros

elegantes no dia-a-dia da vida...

Depois de um tempo, somente

assim é possível termos uma

noite sossegada; uma faxina

de nós em nós mesmos, ufa!

Depois leves e com as mãos

perfumadas, nem em sonhos

seremos os mesmos de antes;

e suspiros diferentes surgirão!

E a parte imutável que restará,

esta é você, é a essência de ti;

nem você, ou eu, nem ninguém,

livrarão dela, são digitais da alma!

Que sejam limpos os teus rastros,

Que sejam sublimes teus restos,

Que sejam doces os teus haveres,

que sejam, antes de tudo, coisas de

seres humanos humanizados e reais!