URUBUS CHEGANDO EM BRUMADINHO
Em Brumadinho, agora,
estão vindo os urubus.
Chegam em bandos atrás de pedaços putrefatos
daqueles que a irresponsabilidade e descaso dizimaram.
Urubus sedentos pela carniça humana,
por tecos de corpo,
esperam só a deixa pra desfrutarem do banquete.
O cheiro fétido da carne apodrecendo,
que outrora foi de gente,
agora se mistura ao ar, à paisagem,
à história, à memória, a tudo.
Esse cheiro vai perdurar eternamente,
pra ninguém nunca mais esquecer que,
no meio daquele barro,
existem pais, filhos, irmãos,
avós, amigos, colegas de trabalho,
gente comum, como eu e você.
Esse cheiro sólido, cruel, pegajoso,
escancarado, vai viver pra sempre,
berrando com todos seus pulmões
por cada vida que lá deixou de pulsar,
deixou de sonhar, deixou de sorrir.
Que esse cheiro de morte insepulta
vigore como chaga a céu aberto,
pro mundo se envergonhar, chorar,
lamentar, condenar e maldizer
o que o homem foi capaz
de fazer.
Ou de não fazer.