A terra arrasada
Esses são tempos de luta
Tempos de alegria e lamentação
Ao fim da tarde, as cidades do mundo
Partem para uma sala vazia
E em vão, todos gritam, em uníssono
"Sim!" À infinitude
"Sim!" À ciência
"Sim!" Ao amor
Rompe-se as paredes do tempo em um quarto de tédio
Em que nada vejo, pela janela
A pouca luz que entra, lentamente
Ilumina as paredes de meu confinamento
E tu, mero instante fútil
Já perdeste as horas, o rumo
E a esperança
Absolutamente petrificado
Fitas a tua imagem no espelho
Em doloroso espanto
Todo cuidado é pouco nesses dias
Com uma roupa qualquer e sapatos floridos
Saio para a rua de minha infância
Daqui se vê os montes, e os homens do mundo
Para todo lado, cantam canções
Estão mais tristes, mas trazem notícias
Em suas rodas festivas e meias-verdades, e roupas puídas
Cartas de baralho sob uma mesa, na calçada, daqui até onde não mais vejo
Outros de um lado ao outro perambulam
Conversam sobre a vida, sobre todos, e as artes
Como se não houvesse amanhã
Vejo agora homens ocos sob um céu de cimento
E eu, como quem nada conhece, ou sequer espera, pois nada sabe
Ansiosamente procuro, em paredes
Vitrines
Poemas
No âmago
A verdade, a história, o sentido
Acredito na vida, mas não a vejo
Vejo alguém que caminha am círculos
Multidões que se acabaram, homens do passado e do agora, com sangue
Pagaram por suas vidas úteis
Tristes fantasmas da ganância
Oh humanidade!
Oh vaidade de carne e osso chamada homem!
Pela coragem clamam, pela fraqueza perecem
Flores de uma terra morta.
Todos atônitos, assistem ao fim da hora do almoço
No lodaçal de nossos vícios ancestrais, em tronos, dignos de pena
Reis do passado
Que dirão os democratas, que dirão os românticos?
Meu nome é desordem
E trago a paz, em troca do sono
Que dia triste, tão solitário
Mas
Olhe estes poemas de eliot!
São tão lindos
Tão belos...
À minha mente me vem, dias que nunca voltam
Feito aços de melancolia
Me arremetem e me lançam
A um dia de sol e liberdade
Sob a calçada de minha infância
Com meu um metro e meio de altura
Branco como um cadáver, e perdido como uma folha ao vento
A brincar debaixo de um céu colossal
E maria me dizia, ao meu lado
Com um pedaço de giz, riscou a rua, divindo o mundo e rompendo a rotina
"Aqui é teu território e desse mundo somos reis"
Na doce alba da infância
Governava castelos e lançava pragas
Sob outonais clarões dourados
E invernos de congelar o espírito
Eis aqui o Júlio César!
O Átila impiedoso, com seu chicote a subjugar nações
Pedindo misericórdia
Eis aqui o Ozymandias!
Ajoelhai-vos, oh poderosos
E desesperai-vos
Os dias agora são outros
Com 17 anos e gritando aos telhados do mundo
Vi ruas se fecharem e as trevas
Se alastrarem por entre as esquinas
Por entre as vitrines
Tão dura e enfadonha é a vida
Dizem que não há talentos
Nem há filosófos
Há somente um feixe de luz em um quarto escuro
De quando eu amei feito algo fútil
E minhas mãos frágeis
Assustaram-se ao ver
A queda de meu firmamento
E quando vim a olhar para a vida
Ja nem sabia olhar para a vida
Como poeira, em maquinários, em atarefados operários,
do caos matinal e da cidade de luz e tristeza
Vi sob um céu azul, puro e profundo
Em um dia ingênuo e cheio de sonhos
O dia em que perdi a estrada
E a razão, e o caminho
E a história.
E tristemente teci, em minhas frágeis mãos, o vão do destino
Quando já não sabia
O que era existir, quando já havia esquecido
O que era sonhar
Veio das várzeas, das grutas, --
Do meu coração, tão vasto--
Tão profundo
Veio do frio cume montanha
Tão rápido
Tão vívido
Como se fosse um demônio
Diante dos meus olhos