SE VOLTASSE AQUELA GARÇA
Se soubesse a garça o que nela vejo,
Sobrevoaria meu peito poeta
E arrancaria novamente versos
Desta língua de voz rouca e pouca.
Se ela sobrevoasse o jardim à beira do rio,
Sentiria o mel espalhado pelas águas,
Do sabor no minúsculo botão
Sugaria a força para mais um voo
entre estrelas e línguas quentes de sol.
Ouviria os versos entre lábios
Em voz que ecoasse profundamente
A cavalgar as ondas e correntezas
Derramadas em rendas sob os adornos
De suas asas também alvas.
Tal qual a láctea via a escorrer no espaço,
Perpetuaria a suave visita
entre frondosas copas.
Se voltasse aquela garça,
Subiria aos céus de alegria, pleno voo
Feliz por ter sentido o prazer
dos pequeninos grãos da areia macia.
Se aquelas asas voltassem,
Eu voaria com elas,
para sentir o gozo da liberdade.