Foi Poeta, Foi Morto e Hoje Poesia
Meu pai foi poeta.
Daqueles que nunca escrevem,
Que declamam por ai seus versos,
Sobre o amor e outras conversas
Meu pai foi poeta.
Destes de igreja e muita reza,
Que confessam seus pecados
Aos que por mulheres sofrem.
Meu foi poeta.
De ouvir rádio AM de madrugada,
Com as musicas velhas chorava
Pelos tempos que não pode viver.
Meu pai foi poeta.
Destes de revoltas e revoluções.
Fazia dos versos o seu fuzil
Que se faziam ouvir pelas ruas.
Meu pai foi poeta!
Transformou em corpo as palavras.
Fez do verso ardente e lascivo.
O poema desejava e era desejado.
Meu foi poeta
Triste e incompreendido em seu tempo.
Deixou versos e versos guardados.
Que só depois foram reconhecidos.
Meu pai foi poeta
Destes de brigar com sílabas.
Perseguia métricas e rimas.
E algumas vezes a poesia.
Meu pai foi poeta.
Destes tomados pelo vício.
Tudo foi mais forte para ele:
Paixões, poesia e a suas dores.
Meu pai foi arquiteto.
Construiu versos concretos,
Mas não aprisionou a poesia,
Fez ela emergir da rocha dura.
Meu foi poeta.
Mas nunca escreveu romances.
Namorou das moças as mais belas.
Seu amor era a mais íntima poesia.
Meu pai foi padre.
Nunca conheceu mulher nesta vida.
Foi seduzido pelas próprias palavras,
Bailavam apaixonadas com sua ideias.
Meu pai foi ladrão.
Roubava versos da boca das prostitutas.
Transformava em música seus amores,
Em poesia o que nunca foi e nem será vivido.
Meu pai foi morto.
Mas a poesia dele ainda não.
Ela esta por ai em toda parte,
Para cada dor e em todo rosto.
Veja e beba também!
Assim me dizia então,
Mas hoje o bebo e o vejo
E assim faço poesia.