O poeta e a mulher
Mulher, porque me olhas?
Não me tornes teu algoz!
Abriste-me o peito em chagas
e agora me devoras com olhos sedentos.
Que perito em tortura és tu, mulher?
Assim quisestes ser e tornastes a ti própria!
Por que me chamas?
Não és a aurora da manhã
nem o orvalho que me acorda de leves sonhos
desenvolvido em noites abençoadas.
És, sim, o calor da carne
que ofusca o Sol e o faz piscar,
és o fogo que arde na chama e a faz gemer,
és dor que me faz sofrer.
Deixa-me só, solitário,
mas esperançoso de que outro dia nasça
e a flor possa brotar ao amanhecer,
quando a moça virgem minha poderá ser.
Sou chama que arde sem cessar,
mas que sofre sozinha
e ama a todas as virgens e seus encantos.
Ulisses de Maio
Obs.: Cabe aqui uma ressalva: O eu lírico deseja uma moça madura, embora virgem por ser mais sensível. E, quando ele diz amar todas as virgens, fez um exagero para ressaltar a vontade de conhecer uma moça com tal sensibilidade.