AS RUAS DE VIAVER

fico um tempo indefinido olhando a rua

seu tráfego de espantos

de acertar remetente ou perder destinatários

vivo absorto no mundo da musa que passa por mim

em declives insinuantes e curvas incertas

retas congruentes ou paralelas

e janelas amplas para contemplação de abismos laterais

via de não andar à ré

a linha do asfalto não permite saber nada do ponto final

por mais que tenha andado

sigo parado em crua solidão

uivo para o silêncio noturno das luas paradisíacas

e sombras fantasmagóricas

quantos defuntos enterrarei?

qual o local do próximo tropeço?

quando derraparei - e talvez até me equilibre -

sem ofegar?

fixo esse tempo infinito na alma nua

e a visão privilegiada amplia a vertigem

de ver além do olho

para depois desatar as amarras

e permitir que a via vá, suavemente

dobrar outras ex-quinas

voar

no próximo passo