CANTO REVELADO * Memória do tempo parado

Para os Capitães que sonharam e continuam a sonhar Abril

E tanto por dizer ficou estrangulado

nas malhas do silêncio azul e da clausura!

Do risco de falar ao de ficar calado,

medrava em cada olhar o esgar duma censura.

Era o tempo parado

dos altares pagãos

onde foi imolado

por atávicas mãos

o devir revelado.

Difusa, em cada esquina, a sombra desenhava,

na mancha que sangrava as pedras da calçada,

o desvario insone e plúmbeo procurava

a brisa que trazia a nova perfumada.

Era o tempo parado

dos desígnios fatais

dum fantasma danado

a negar os sinais

do devir revelado.

Ah, meu amigo, e tu, nos longes por haver,

ainda do silêncio infausto tão distante,

vivias, no mistério, a sedução de ser

um astro mais do céu a lucilar errante.

Era o tempo parado

da vergonha de nós

no estertor resignado

e no medo sem voz,

a render-se calado.

Chegaste, agora, são e salvo, e o tempo é teu!

Bem-vindo sejas! Vem, no tempo que em ti cresce,

ser mais um cravo-Abril, que o dia amanheceu,

e deixa-te orvalhar de auroras e floresce!

José-Augusto de Carvalho

19 de Maio de 2009..

Alentejo * Portugal

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 19/01/2019
Código do texto: T6554793
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