Ser gente é urgente!

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Folhas de papel espreitam-me...

Estreitas pautas esperam cócegas

Do bico de alguma caneta!

Se posso escrever, escrevo.

Se não posso, perco as falas silenciosas

Que me chegam e, ignoradas,

Vão-se embora e não voltam mais.

Entre o simples o complexo,

O amplexo para o espelho convexo!

Nele, esteve refletido o meu filho,

Que o escolheu, apropriado para garagem,

A fim de enfeitar seu apartamento.

Deixou o espelho para trás...

Tenta espalhar-se numa Paris comprimida,

Onde meio mundo quer morar,

Mas não há lugar.

Estudantes escondem-se por lá,

A fim de frequentarem a Sorbonne,

Desejosos de serem bons!...

Um bom negócio, em cidade grande,

É ser dono de estacionamento,

Aqui, entre nós!

Não em Paris, onde o transporte coletivo,

De tão resolvido,

Dispensa comentários

E também dispensa carros...

Encontro-me com o desencontro.

Não me desencanta,

Desalenta-me.

Tempo de índio, conta-se em luas:

Passaram-se tantas luas...

Regrido a esse tipo de contagem do tempo.

Deconsertam-me os numerais arábicos e romanos.

Quero contar com os índios

E viver sob luas

Passadas

Presentes e

Futuras...

Estarei iluminada por luares,

Localizável por radares!...

Reduzo-me à minha expressão mais simples – a de gente.

Se colocarem uma cerca diante de mim, eu não passo.

Mas atravesso rios e mares,

Porque a água é fluida e tenho bom trânsito na água...

Sou equipada para ser vivente.

Poderia ser onça, leoa, girafa...

Mas sou gente.

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 16/09/2007
Código do texto: T655316