Na hora da chegada
Na hora da chegada
Se diz: bem-vinda neblina
Que deixa a terra molhada
Que cora o coração agricultor
De esperança...
Na hora da chegada
Se diz: chegou em boa hora
Essa chuva chuviscada
Escrita sobre a terra
Tão seca e áspera e chorosa
Pelo tempo da estiagem...
Na hora da chegada
Se diz: já era esperada
Seja nossa hóspede,
A mais desejada!
Que fará sonhos abrolharem
Depois da terra adubada
Com as sementes da farta safra.
Na hora da chegada
Se diz: sinta-se em casa
Seja bem servida
De aconchegos e ressalvas
Chegue trazendo a alegria
Escorrida nas biqueiras
Para a criançada.
Na hora da chegada
Seja dia, seja tarde ou noite
Será sempre a mais esperada
Nesse sertão tão seco
De qualquer gota d'água
Venha como o doce da cana
Fazer entre nós morada
Venha encher os açudes
Deixar a terra ensopada
Fecundar as sementes enterradas
Florindo o cinza da seca
No Verde da invernada...
Na hora da chegada
Será sempre o rosário
Do agricultor
De mão tal calejada
De amolar a inchada
Na terra seca e sem graça,
Será a graça alcançada
Da prece feita com o fervor
De quem tem fé no andor
Do padroeiro
E apara a água no pote
Para beber na diária...
Na hora da chegada
Não precisa avisar
Nem fazer cerimônia
Basta bater no telhado
Com os seus pingos d'água
Venha mansinha ou serenada
Aqui fazer morada...
Na hora da chegada
Para mim é uma festa
De alegria não controlada...
Mas na hora da despedida
Meu coração chora de tristeza
Pela partida não desejada
Pelo tempo longo da espera
De vê-la nesse terreiro novamente
Sendo a alegria da gente
No floreio dos campos
Pelas nossas mãos preparados
Pelos seus pingos alimentados...
Na hora da chegada
Se diz: sinta-se em casa
Não precisa ter pressa
Aqui você será sempre
A visita mais esperada.
Marcus Vinicius