IMAGENS DO SERTÃO
Na alvorada singela e brilhante,
Por detrás da serra fumegante
Se avista ao longe um clarão:
É o sol ardente e causticante
Que vem voraz e triunfante
Castigar o meu sertão.
Nas vergas secas da guabiraba
O vento sopra e desaba
As folhas mortas no chão.
Enquanto a andorinha forasteira
Passa voando ligeira
Trazendo consigo o verão.
Na estrada vai se perdendo
Um carro de boi gemendo
Em busca da água que acabou;
Tão logo volta tristonho
Parecendo mais um sonho,
Pois o ribeirão secou!
Nas alcovas despidas e sórdidas
Das cabanas humildes e mórbidas
Corpos esqueléticos esperam sedentos;
Porém, o líquido não vem
E o sertão vive também
Em martírios e sofrimentos.
Nas entranhas das caatingas feridas
Repletas de corpos sem vidas
Estendidos sobre as pedras longas;
E nos galhos da jurema ofegante
Um ruído melancólico e penetrante:
Um triste cantar de arapongas.
No estreito caminho de areia
O jumento sedento cambaleia
Enquanto desfalece o dia;
E na hora sublime exalta
Sobre a montanha mais alta
Um silêncio... Ave Maria!