Auto-retrato

Havia perdido meu rosto na viagem,

deixei do outro lado da rua minha roupas

deixei impressões no bar

e uma contínua vontade de que a vida fosse diferente me persegue.

Ser alguém menos estranho,

nem reflexivo e nem superficial,

na medida certa,

sereno,

sem revolta, sem ambição,

com muita coisa para se fazer.

É tudo que eu queria ser!

Não sou assim,

nem mesmo à noite

pior ainda de dia.

O céu de minha casa é vermelho,

o vestido de meus lábios é roxo,

muitos calos nas mãos

pedras no peito

e um poderoso finito nos meus cabelos,

nunca pretendi mesmo fazer tranças.

Muito embora muita graça escondo

Habita em mim cárceres.

Pela pintura do quadro desenho minha trajetória,

mas ninguém me acompanha.

Não entro no carro e nem penso pegar ônibus,

vou andando mesmo

pelo passeio

pela calçada suja

pelo vento,

pedindo ao sol por nuvens

rogando as nuvens por chuva

que a chuva me molhe

sem deixar restos.

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 14/01/2019
Reeditado em 14/01/2019
Código do texto: T6550460
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