MENINA

Menina,

eu entendo o seu tédio.

O que há mesmo aqui, em nossa volta?

Você não chega nem

a ficar mal-humorada

porque você ainda tem

idade e energia de sobra,

e você só se importa com seus pais,

porque você acredita que só precisa

de seus pais... você é a face da ilusão

do adolescente que é burro

e se acha inteligente.

Mas, menina,

você senta num banquinho

isolada, com seu celular

enquanto as outras meninas

gargalham, gritam, transcendem

os limites que lhe são impostos.

Eu escrevo coisas,

o tempo todo. Poemas

cantos, contos, livros

só me faltam letras

dos mais belos sambas

que jamais serão

compostos.

Mas assim como

seus filmes, desenhos

músicas, assim como

todos os seus suspiros

de raiva, e toda a sua

fome que não acaba

... nada funciona.