PAISAGEM
O céu é tão azul como o mar
mas não tem barcos de velas brancas.
O Sol nasce e levanta-se envolto em ouro,
flameja e aquece, mas não sorri.
E quanto mais se eleva mais espalha
um imenso deserto sobre as casas.
Daqui, deste mirante que se debruça
perigosamente sobre o fundo falso das horas,
procuro em vão uma palavra escondida
no rosa-pálido da telha marselhesa,
nos maciços de verde que escurecem ao longe
ou no cintilar prateado do rio que desliza
espreguiçando-se, sem pressa, como uma grande serpente.
Mas nada transparece da embriaguez das cores,
mas nada encontro na calma do tempo morto.
É preciso estilhaçar o vidro da paisagem,
deixar de ser o homem do binóculo
e saltar, resoluto, para o precipício.
Entretanto, o Sol morre lentamente
com cabelos de sangue sobre o mar.