Passe a vez

Morrerei

Um dia qualquer

De muita poeira e correria.

Ninguém parará

por fato tão comum.

Todos os dias

Pessoas comuns morrem

E a vida não para.

Morrerei

De qualquer coisa, não importa.

O hospital estará lotado,

O serviço de socorro indisponível

E ninguém terá o dinheiro do táxi!

Os médicos em greve

E os enfermeiros sem o material de trabalho.

Que importa?

A morte iguala a todos!

Mesmo que outros tenham direto

Ao plano funeral.

Morrerei...

Serei velado na sala de casa

Ou na capela do bairro.

Algumas flores e a lágrima amiga.

Não que seja combinado,

Mas é que a morte combina

Com choro, despedida, saudade...

Morrerei

Deixarei um espaço na vida

Para que alguns sintam saudade.

Para o governo serei estatística,

Morte morrida

Ou por maldade.

Deu baixa na previdência, menos um

Saldo negado.

A morte alivia a dor

Provoca revolta ou saudade

Mas depois passa e a vida se normaliza.

Morrerei

Porque nascemos, depois o governo sucumbe...

A nossa dignidade.

A morte instiga a vida

Causa mão de obra, investida

Serei morto

Não terei como evitar

O exercício da maldade.

Marcus Vinicius