O parto de um anjo
Enrustida num batel
Não de todo lídimo
Foi como entrou no céu
Sem um bilhete legítimo
Veio sem recomendação
Transvestida no convés
Nada de fé, ou beatificação
Olhando e andando de viés
Falou com mais de um anjo
Sem mencionar o passado
Mostrou-se aberta a arranjos
Disposta a sanar pecados
Certas vezes na terra rendida
Em macas cheias de marcas
Vendia amores, era vendida
Em casas de luzes parcas
Sem descanso pelas camas
Livre da pedra de Madalena
Agarrava-se a novo alfama
Querendo abrandar a pena
E no éter viu-se como gente
Ela, passageiro clandestino
Num passe de paz, de repente
Deixou de ser um desatino